04/02/2010

Uma dose de juízo, sem gelo.


Um dia quente de verão a ferver meus miolos moles. Desde a última vez que escrevi algo aqui me aconteceu tanta coisa, que pensando tudo, em sua ordem, dá para acreditar que eu sou forte, mas também tudo isso que me aconteceu foi porque eu fui fraco.

22 de novembro de 2009, aproximadamente seis horas da manhã. Estava voltando de uma festa, seguida de outra, dirigindo meu carro, que era meu há uns nove meses. Estava levando comigo uma amiga e mais dois conhecidos dela. As caipiras e as cevas faziam carnaval no meu cérebro. Foi uma noite de chuva intensa, uma noite q eu não deveria ter saído de casa. Sabe, você sempre recebe avisos, é sério! Primeiro, ao começar a chuva, minha outra amiga, que eu iria encontrar lá, disse que não iria, "sair com essa chuva é indiada" dizia ela. Eu insisti, queria sair de qualquer maneira, ela concordou. Depois, ao tomar banho quase ocorre um incidente. O chão do box estava ensaboado do shampoo que havia caído. Eu resvalei, quase me espatifei dentro do banheiro. Depois lá na festa, eu derrubo uma garrafa cheia de ceva no chão, e ela se quebra toda, foi como se alguém tivesse me dado um tapa não mão. Obvio que eu não iria encarar isso como um aviso de morte. Até porque, para morrer, basta estar vivo.
Por alguma idiotice, fui para outra festa. Lá, tomei mais uns tragos. Dancei, e lembro de ter ouvido Enjoy the Silence, do Depeche Mode. Lembro também de ter subido no palquinho do DJ para pedir Culture Club, bem fora da casinha.
Depois, quando o dia já estava claro, resolvemos ir embora. Eu sempre saio, sempre bebo, danço e me divirto horrores. Mas sempre foi sagrado eu parar num lugar e tomar um refrigerante e comer que nem um cavalo, porque eu sinto muita fome. Mas nesse dia isso não aconteceu. Eu tava sem grana, e tudo que comi foi uma mordida de um cachorro quente da minha amiga. Peguei o carro, e fui levar um rapaz, amigo da minha colega, a minha colega e mais uma menina, para casa, que era pertinho dali. Estava em território desconhecido, e andando rápido. Tinha um exú encarnado, no mínimo e só no "direita" e "esquerda". Até que veio a curva fatal, no maldito paralelepípedo de 50 anos, virado em sabão por causa da chuva! Entrei muito rápido na rua, e quase dei num carro estacionado próximo à esquina , (isso segundo minha amiga, porque eu não lembro até hoje o que aconteceu), então desviei do carro, ainda em alta velocidade, e perdi o controle do meu carro, tudo que eu fiz foi pisar fundo no freio, o que foi inútil, pois o carro deslizou e foi parar só quando deu com tudo em um poste. Até hoje eu lembro do impacto, e da tremenda dor que eu senti nas costas.
Achei que finalmente tinha parado o carro. Quando ergui a cabeça, vi o capô do carro revirado pelo vidro da frente. Senti uma coisa horrível, uma mistura de sentimentos ruins com dor física. Ninguém estava ferido, ou melhor, ninguém estava sangrando. Saia muita fumaça do motor, as pessoas se assustaram, queriam sair do carro, eu vi, e devo ter falado que era só vapor do radiador que deveria ter se esfrangalhado. Mas eu acabei saindo também, mal sai do carro e despenquei no chão. Sentia muita dor no meu quadril. Me rastejei para a traseira do carro. A visão dele acavalado na calçada e grudado num poste não me sai. Pergunto se todos estão bem, apenas uma menina sentia muita dor no braço. Logo os moradores da rua saíram, para prestar socorro. Perguntaram se eu estava bem eu disse que sim, exceto pela dor extrema no quadril. Em cinco minutos a SAMU chega. Sou imobilizado, e levado na ambulância, a menina também.
Resumindo, fiquei um dia e meio no HPS de Porto Alegre, para ser diagnosticado. Fraturei três apófises transversais lombares, os ossinhos que ficam em torno das vértebras. A menina que veio na ambulância comigo quebrou o braço. Mas foi liberada horas depois.
Fiquei uma semana de cama, sem conseguir me mexer por causa da contração dos músculos envolta dos ossos quebrados. Não havia mobilização a ser feita, segundo médico. Praticamente reaprendi a caminhar. No início precisava de ajuda até pra tomar banho. Meu pai dizia: "viu? Quando um homem vira merda". Não quero pensar no que podia ter acontecido de pior, afinal as coisas sempre podem ser piores do que já são. Estou recuperado e caminho normalmente.
A lembrança de peso está hoje na minha garagem, que é o meu carro destruído, pois o seguro do Unibanco de merda, não quis fazer nada, em fim, essa é uma outra longa história.
Reconheço que foi um ato de irresponsabilidade minha, botei em risco a minha vida e de outras pessoas. Infelizmente eu não fui o primeiro nem o último. As pessoas não têm noção da dimensão do estrago que podem causar. E infelizmente é da natureza humana aprender errando.